Educação e classe social
Educação e classe social
Gilberto Barbosa dos Santos
Tinha como escopo hoje abordar aqui neste espaço a transformação do papel-moeda (dinheiro) em mercadoria e como essa migração de uma esfera a outra pode gerar receitas e débitos e, por conseguinte, viabilizar e engordar o monstro inflacionário, entretanto optei por deixar essa temática, como uma outra sobre “necroses” e “neuroses” enquanto doença do século XXI, para tratar de um assunto pertinente, conforme definido no título dessa reflexão: a emblemática situação educacional brasileira.
Essa pequena análise começa a partir de uma matéria de autoria de Gustavo Ioschpe publicada na edição da Veja do último dia 13, intitulada “Precisamos de educação diferente de acordo com a classe social”. Em linhas gerais, as observações feitas por ele são profícuas, todavia, pareceu-me que o mesmo manipula conceitos que desconhece, bem como um conhecimento mais aprofundado da realidade educacional e social do Brasil.
Em primeiro lugar, é desnecessária a criação de uma escola e processos pedagógicos levando em conta a realidade classista dos futuros estudantes e seus pais, mas sim instituições que permitam que seus egressos tenham condições de ingressarem no mercado de trabalho em igualdade com os demais pretendentes. Portanto, a questão passa a ser essa! No entanto, durante a sua argumentação, o autor elenca uma série de categorias de profissionais da área educacional que pensam o setor a partir de diversos prismas. Nesta parte, as observações também são pertinentes, mas apenas como ponto de partida e referencial para se perceber os avanços e estagnações de tais “teorias” educacionais.
Não é profícuo aqui esmiuçar todos os quesitos apresentados pelo colunista desta revista nacional, mas tão somente tecer alguns comentários sobre as mesmas e externar minha compreensão do processo educacional brasileiro e o que poderia ser feito para que o país finalmente abandone, de vez, o estigma que possui de apresentar anualmente baixos índices de performances educacionais nas mais diversas olimpíadas espalhadas pelo mundo das quais os estudantes brasileiros participam. Neste item, os dados apontam melhorias, entretanto, são pífias diante dos anseios da coletividade estudantil do Brasil.
Neste sentido, a minha contestação ao texto de Ioschpe diz respeito à idéia difundida pelo mesmo de que deve existir no Brasil uma “educação” voltada para os integrantes da base da pirâmide social e uma outra direcionada aos indivíduos dos extratos superiores da sociedade. Não é aceitável tal sistema, primeiro pela sua inconstitucionalidade, pois de acordo com a Carta Magna, todos os cidadãos brasileiros são iguais perante a lei, portanto, um sistema educacional nos moldes apresentados pelo colunista não ganharia legalidade.
Se essa proposta choca-se com os direitos inalienáveis dos sujeitos sociais que pagam regularmente seus tributos na condição de cidadão, então como pensar as transformações educacionais no país? Conforme ele mesmo afirma, existe uma corrente que aponta a valorização do magistério como saída para as mazelas pedagógicas encontradas no Brasil. Há ainda aqueles que concordam com o processo de inclusão da educação, pois para “o aluno pobre, o objetivo principal é estar na escola; se aprender, é um bônus”. A terceira corrente propala que, conforme palavras do próprio Ioschpe, “é impossível esperar que o aluno pobre, que mora na periferia e vem de família desestruturada, aprenda o mesmo que o de classe média e alta”.
Diante do exposto, parece-me mais salutar apresentar uma proposta mais eficaz levando em conta diversos fatores, entre eles, a finalidade da escola e da educação no Brasil, bem como as expectativas que os segmentos que compõem têm do setor, ou seja, como os quadros discentes, docentes e os funcionários constroem a escola a partir de seu cotidiano. Neste sentido, é pertinente observar que o aluno do terceiro milênio não é o mesmo do início da década de 90 do século XX, assim como os recursos tecnológicos colocados à disposição dos estudantes, professores e funcionários das mais diversas instituições de ensino espalhadas pelo Brasil.
As constantes revoluções tecnológicas ocorridas a partir da última década do novecentos colocou para todos os profissionais da educação diversos desafios, entre eles o de ensinar conteúdos em plena era da globalização da informação sem nenhum viés que permita aos sujeitos referenciarem o que está acessando nas mais diversas redes e páginas de relacionamento espalhadas pela rede mundial de computadores. Portanto, falar da Revolução Francesa de 1789 pode parecer desnecessário para uma platéia amorfa e mais interessada em se conectar a internet do que entender para a contemporaneidade a importância de Jacques Danton, Maximine de Robespierre, sem falar na objetividade do plano cartesiano e no MUV (Movimento Uniformemente Variado) do universo da Física.
Enfim, parece-me que o maior desafio para os pedagogos que trabalham diariamente com a educação, seja aquela oferecida pelas estruturas privadas ou as públicas, é fazer com que os conteúdos ministrados tenham sentidos para os estudantes que, não são possuidores de referenciais morais e despossuídos de padrões de condutas em sociedade, cuja conseqüência é o que pode ser observado diariamente na sociedade: pais permissivos, filhos inconseqüentes e, isso não tem nada a ver com classe social, pobre, rico, classe alta, baixa, média ou as diversas letras do alfabeto que os políticos populistas querem utilizar para ludibriar o povo anestesiado e idiotizado pelo desejo de consumo desenfreado.
Gilberto Barbosa dos Santos, 42, sociólogo e professor no ensino superior e da rede pública em Penápolis, escreve às quartas-feiras neste espaço. E-mail: critica_social@hotmail.com