O futuro aguarda a educação

23/11/2011 10:00

O futuro aguarda a educação

 

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Outro dia peguei-me pensando no futuro, lógico que coloquei-me na condição de um “sibilista”, que tenta adivinhar o amanhã de uma sociedade sem presente que esconde o seu passado com medo de que ele possa revelar, a todos, os elementos formadores da hipocrisia humana do momento. Esse sentimento amplia-se quando pensa-se no Brasil, país de um grave passado escravista e de colonização enviesada, cuja matriz é jesuítica e de uma educação que sempre privilegiou as elites, em detrimento da patuleia que devia “colocar-se em seu lugar”, conforme relata Rachel de Queiroz, por meio de uma das personagens de seu épico romance “Memorial de Maria Moura”.

A conclusão foi óbvia, ou seja, enquanto no ontem as classes mais desafortunadas continuavam suas toadas direcionadas aos infortúnios provocados por um capitalismo nascente, fruto da expansão marítima e do desterro de uma grande quantidade de pessoas de suas regiões para além do Oceano Atlântico, a atualidade não deixou de ser diferente e o amanhã não lhes reserva muitas esperanças positivas, pelo menos é o que muitos educadores sentem quando adentram as salas de aulas espalhadas pelo país e o que é mais traumático é que isso não é próprio das instituições de ensino pertencentes à esfera pública, comprovando que o caos pedagógico é geral, afugentando os docentes do interior dessas escolas em busca de profissões em que são valorizados, pelo menos quando a temática atem-se ao universo financeiro.

Se o quadro desenhado acima anda muito cinzento, beirando a escuridão, ao breu total, então não há salvação desse lado do Atlântico, ainda mais agora que o capitalismo, em sua fase financista, entra em crise e todos os humanos podem não entender muito bem por que isso está acontecendo e querem uma explicação racional pelo fiasco econômico que os amedrontam, no entanto, a resposta a essa pergunta pode levar a sociedade para outros questionamentos que terão, com certeza, diversos desdobramentos mais caóticos, como por exemplo, a própria situação de um setor de vital importância para estimular uma vida diferente da atual. Quando a educação é tratada como artigo de segunda classe, como a mesma pode transformar um ente esperançoso quanto a um amanhã repleto de felicidade? Acho que não precisa consultar a cartomante machadiana para tentar saber que a resposta é a mais óbvia, ou seja, um futuro incerto, cujas escaramuças podem esconder tristes surpresas, principalmente para aqueles jovens e adolescentes crentes de que não acontecerá nada de novo no “reino da Dinamarca”. É triste a constatação, mesmo porque existem muitos educadores que, a quiçá da falta de apoio governamental, pois tem-se muita verborragia e cortam-se muitas árvores para produzir papel e tinta para imprimir muitos tratados, mas de pouca eficácia na prática, na outra ponta da mesa sentem-se frustrados com esse importante ofício tão menosprezado pela sua clientela, ou seja, o estudante que permanece estupefato e desinteressado em um aprendizado, muitas vezes, sem muito sentido no mundo deles.

Em um exercício onírico e solitário tento entender as palavras e o sentido por trás de termos como “revolução educacional”, já que o que compreendo são meros jogos semânticos para explicar à sociedade que faz-se alguma coisa em prol do futuro dos filhos que tornar-se-ão vindouros eleitores de propostas e projetos políticos farisaicos - não adianta dizer que tal governo fez mais do que anterior, pois quando iniciam-se compreensões racionais dos bastidores dessas gestões, observa-se que mudou-se apenas a nomenclatura, a exemplo do que aconteceu quando o fim da Monarquia foi declarado e a criação de um novo sistema de governo, entretanto, todos aqueles que gravitavam em torno da Coroa, permaneceram no “novo modelo político” que, em virtude disso, já nasceu velho, caquético e viciado, mantendo-se dessa forma até hoje. Parece-me que essa era a visão de Machado de Assis, o “Bruxo de Cosme Velho” como era conhecido, quando escreveu em 1904, o clássico “Esaú e Jacó”.

Bom! Se o passado tem muitas coisas a nos dizer, por que será que os estudantes de hoje tentam silenciá-lo com seus desinteresses e apatias? Talvez porque o exercício de pensar o ontem pode auxiliar o homem a projetar o futuro, mas como tudo é muito incerto neste mundo em que tudo muda da noite para o dia, inclusive as relações efêmeras travadas entre duas pessoas que no pretérito, não muito remoto e nem tão longínquo assim, juraram amor eterno, mas que no novo amanhecer esvaiu-se como o dia anterior, então não é necessário compreender as origens, apenas vivenciar as conseqüências sem muitas reflexões e torcer para que os frutos das atitudes do momento demorem o maior tempo possível para germinarem, pois tem-se a certeza que os mesmos serão amargos, então por que pensar quando pode-se existir apenas no hoje e mande o pretérito para o ostracismo. Talvez a dificuldade em compreenderem-se os preceitos matemáticos e os intricados jogos da linguagem encontre-se justamente nesse preceito de não buscar o passado para resolver equações algébricas e o uso correto de um verbo no pretérito mais que perfeito, indicativo, subjuntivo, ou aqueles que não têm todas as conjugações, como os defectivos.

Se a relação com essas duas áreas é árdua, imagine então quando começa as lições de química, física, biologia e os emaranhados de veias, neurônios e tecidos que formam o corpo humano? A coisa beira então ao caos cerebral e os alunos preferem apertar um botão do celular – pois precisam ter um para existir nesse mundo tecnológico – e fugir de um mundo desconhecido de cálculos e datas para um universo paralelo onde tudo faz sentido para eles, inclusive aquelas músicas de melodias simplórias e letras pobres de conteúdo, cujas composições fariam Pixinguinha, Cartola, Ludwig van Beethoven, Mozart, Tom Jobim e Vinícius de Morais, entre outros, rolarem em seus túmulos, tamanha a desfaçatez sonora a que estão sendo acometidos os jovens e adolescentes de hoje, desprovidos de sentido valorativo e de uma esfera moral efêmera.   

Portanto, quando vislumbro um educador sem brilho nos olhos quando fala do seu ofício, observo que o hoje não é mais capaz de buscar a construção de um futuro seguro para as crianças que estão chegando a esse mundo, dando razão ao filosofo Arthur Schopenhauer, quando o mesmo, claro deslocando a afirmação do seu conteúdo teórico, que a criança chora quando nasce porque tem certeza que chegou a esse mundo de dementes. Enfim, enquanto as pupilas dos profissionais da área educacional mantiverem-se opacas, semelhantes aos dos tubarões, por falta de perspectivas e prazer pedagógico, o Brasil não será capaz de gestar o seu futuro, tornando-se um país que apenas copia e, às vezes, mal o que outras nações criam. Agora a corrupção nas terras brasileiras é inigualável a qualquer outra paragem, ou seja, o que produz-se aqui em termos de políticos corruptos, cujas digitais estão espalhadas por todos os cofres das esferas públicas e que escapam das malhas da lei, é uma coisa impressionante e a patuleia observa a tudo como se estivesse assistindo a uma parada militar.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, 42, sociólogo e professor no ensino superior e da rede pública em Penápolis, escreve às quartas-feiras neste espaço: https://criticapontual.webnode.com.br. E-mail: critica_social@hotmail.com