Recado aos postulantes ao cargo de prefeito

02/11/2011 23:33

Recado aos postulantes ao cargo de prefeito

 

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Encerrado o prazo para que aqueles políticos ou pretendentes a, filiassem-se em uma legenda, inicia-se uma espécie de segundo tempo do mundo partidário e da peleja eleitoral, qual seja, o da elaboração das propostas que as agremiações apresentarão ao público eleitor. Todos os postulantes - sejam os que visem os cargos no legislativo ou à chefia do Executivo - que têm intenções de dançarem no baile da vitória após a abertura das urnas logo após o encerramento do pleito do próximo ano, precisam entender o que significa projetos visando à construção de uma cidade melhor para todos, independentemente da opção religiosa, política, sexual, futebolística, musical, ou pertencimento étnico, etc.

Entendo que o atual secretário de Educação, historiador e mestre pela Unesp, campus de Assis, Cledivaldo Aparecido Donzelli, em reportagem publicada pelo INTERIOR em sua edição especial de aniversário de Penápolis deu a tônica do que a sociedade irá esperar do novo governante e dos integrantes da Câmara Municipal. As observações são pertinentes levando em conta o que foi o município na década de 40 do século passado, culminando com uma espécie de decadência em virtude da prática excessiva da monocultura, estagnando desta forma a localidade por décadas a fio.

Muitos estudantes perguntam-se qual é o objetivo em estudar a História e, em entre tantas respostas, obtêm dos docentes da área que, sem conhecer como a sociedade constitui-se até chegar ao nível em que se encontra hoje não é possível pensar em um amanhã de forma sustentável. Portanto, a disciplina não é meramente uma sucessão de datas e fatos, mas sim a compreensão dos mesmos e a importância que os mesmos têm para a coletividade como um todo. Um exemplo desse aspecto é o fim da escravidão no Brasil em 1888. Durante muito tempo passou-se a idéia de que foi um gesto de benevolência da regentina Isabel, todavia, após muitas pesquisas e análises é possível conhecer a verdade por trás dessa “ação” da herdeira do trono do Brasil, cujo regime foi exterminado como conseqüência do fim do trabalho servil no país, entre outras causas.

Deixando a vida pretérita do Brasil e atendo-se ao âmbito local, após anos de estagnação e retrocesso, Penápolis inicia sua jornada em direção à construção de uma cidade sustentável. Isso tem início no final da década de 70 e começo dos anos 80 com a criação do hoje renomado Daep – exemplo para o país e para outros países quando o assunto é saneamento básico, tratamento de resíduos e outras ações que é de conhecimento da coletividade. Depois a população, de forma democrática, elege um prefeito que dá início a uma completa transformação na área social e da saúde e em outros setores tidos como secundários, mas também importante para a construção da cidadania.

Claro que o trabalho não está completo, pois necessita-se de gestores capacitados para ampliar o que já foi feito. Portanto, os partidos e os “políticos” corajosos que colocam seus nomes na ágora precisam entender bem do que se trata, para não ficarem apenas discursando verborragias pautadas em promessas ocas, ou seja, é preciso apontar as propostas que possuem para cada setor e como conseguirão os recursos para colocarem em prática tais projetos.

Lembro-me que há oito anos em matéria publicada no INTERIOR a partir de uma entrevista que concedi ao jornalista Lázaro Jr. companheiro de trabalho na época que trabalhava em um livro reportagem “No trem da história”, afirmei que a cidade precisava de um gestor que contemplasse as conquistas do setor social oriundas da abertura democrática e proposta por um gestor com ampla sensibilidade social com o desenvolvimento econômico iniciado nas gestões posteriores. Minhas observações naquele momento não eram exercícios de sibilagem, mas sim fruto de uma análise sobre a cidade, iniciada ainda nos bancos da Unesp no início da década de 90.

O processo eleitoral começou, terminou com a vitória esmagadora do atual partido que conseguiu quatro anos depois a reeleição e hoje começa uma nova trajetória visando manter-se no poder por mais um quadriênio, mas ai é uma outra história que precisa ser construída com base no que já foi feito nesses últimos anos. Porém, isso não significa que eles já saem na frente na peleja eleitoral. Muito pelo contrário, pois conforme uma enquête no site do INTERIOR desta semana dava conta, até o momento em que este texto era confeccionado, o percentual dos internautas que consideram o atual governo ruim era superior àqueles que entendem como sendo ótimo o mandato do atual gestor. Claro que os dados servem de parâmetro para se pensar algumas questões e não podem representar fielmente a realidade, pois é preciso entender quais são os fatores que levaram essas pessoas a opinarem desta forma.

Entretanto, há sim um ponto positivo no atual grupo que comanda a cidade, principalmente quando a temática é a educação e o universo econômico, pois a cidade vem conquistando benefícios por conta de ações tomadas lá atrás, como por exemplo, a criação do Plano Real que conseguiu eliminar a inflação residual que corroia os salários dos trabalhadores, bem como as constantes transformações no mundo por conta das alterações no universo tecnológico.

Todas essas características, somadas a adoção de medidas sociais, iniciadas nas duas gestões de Fernando Henrique Cardoso, ganhando corpo por intermédio de seu sucessor, proporcionaram ao país uma posição no mundo capitalista em constante crise. O país como um todo beneficia-se e Penápolis não fica atrás com o atual prefeito soube capitanear muito bem esse momento. Como ele mesmo gosta de dizer, poderia ter feito mais, mas ainda há muito mais para ser realizado, bastando os postulantes a sucedê-lo, apresentarem propostas que contemplem os setores que deixaram a desejar durante o tempo em que o atual mandatário passou no principal assento da cidade.

Neste sentido, é que tenho afirmado que ter coragem de apresentar o nome à assembléia de votantes é relativamente fácil, a questão mais emblemática é apresentar uma proposta coerente com o patrimônio cultural, social e econômico que a cidade possui. Hoje muitos gostam de bater no peito e ufanarem-se das qualidades de Penápolis, mas esquecem-se, em muitos casos, de explicarem que a colheita do município é fruto de uma longa jornada iniciada lá atrás por outros administradores que tiveram coragem para iniciar um trabalho, às vezes, pioneiro. Enfim, os meus questionamentos aos postulantes não pautam-se em aspectos ideológicos, pois muitos quase-políticos mal sabem o que é isso e não conseguiriam manter uma conversa sobre essa peculiaridade por mais de meia hora, mas sim em projetos, propostas e programas eficientes para colocar a parte de Penápolis que falta nos trilhos.  

 

Gilberto Barbosa dos Santos, 42, sociólogo e professor no ensino superior e da rede pública em Penápolis, escreve às quartas-feiras neste espaço. E-mail: critica_social@hotmail.com